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domingo, 23 de novembro de 2008

Consciência mestiça

Salvador.Bahia. Novembro/2008.

Em brancas nuvens. Foi assim o meu Dia da Consciência Negra por cá. Eu, que me sabia afrodescendente antes de África, agora busco escutar todos os povos que habitam em mim. Isso é ser mestiço. Foi por essas e outras que não postei nada no 20 de novembro que, diga-se de passagem, não é feriado na Bahia, estado de maior população negra do Brasil. Tive ímpeto de apelar ao lado noticioso da coisa o que, aliás, tenho evitado aqui. Mas não. Preferi o silêncio. Recolhi as minhas angústias mestiças à significância da minha ancestralidade brasileira, louca e estranha aos olhos dos ditos "puros" de qualquer cor.

E hoje, uns dias depois de perambular pelas ruas da velha Salvador, volto aos posts, longe de Luanda, para dar andamento às descobertas internas de quem ainda não sabe direito quem é. Acho que, na verdade, isso tudo é um mar dialético. A cada dia descubro outros eus, novos e antigos, que aos poucos se encontram e se misturam como fizeram meus ancestrais. Sou tataraneta de índio, bisneta e neta de negras do Recôncavo, filha de mulata e de um branco brasileiro de alma africana. Enfim, nessa confusão (ou será profusão) de identidades, com Luanda no meu peito, aos poucos realinho o meu ser neste Brasil.

Por que, vejam só, precisei de África pra entender melhor isso de raça. Que, de verdade, não tem a menor importância de que cor nascemos. Importa o que pulsa em nossas veias e a transparência diária que nos faz seres humanos. Essa humanidade delicada de sofrimentos diários, pequenas dores, angústias ocultas, recheadas inclusive de hipocrisias que nos convocam a devassar estranhezas da realidade. Por que aqui, no reino de Itapuã, a burguesia de qualquer cor tem o mesmo cheiro que em outro lugar. É, Cazuza estava certo. Viva Zumbi dos Palmares! Salve, ó Curuzu!

2 comentários:

Mayra disse...

Ê, que bom que os Sóis de África voltaram a brilhar no Brasil! =)
Pra mim o feriado da Consciência Negra, que não fazia sentido direito, agora não faz sentido nenhum... A consciência teria que ser das cores do arco-íris inteiro!
Beijo d'Angola

Teka disse...

é, querida...de certo modo, vc até tem razão. mas para quem sofre o preconceito racial no brasil, fica dificil entender isso. enfim, controversias da história de miscigenação. beijos