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segunda-feira, 16 de março de 2009

Caminhos de Angola

Cinco meses depois de retornar ao Brasil, faço questão de manter, neste diário de bordo em África, os singelos depoimentos sobre as minhas redescobertas pessoais. Depois de algum tempo sem nenhum post, levo agora os assuntos de África para um novo blog. Mais jornalístico e longe do anonimato, tratarei nele os temas relacionados à realidade contemporânea de Angola e do continente africano. Continuamos juntos, agora nos meus Caminhos de Angola, em um novo endereço. Quem quiser, é só visitar: http://hilceliafalcao.wordpress.com/.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Lições da vida em reais


Nunca fui um ser humano radical. Quase nada me impulsionava à intransigência em tempos idos. Mas agora, beirando a quarta década em cima deste planeta, me permiti, neste fim de 2008, algumas intansigências de kota. E foi assim o meu Natal: intransigente. Não houve presentes comprados nos shoppings. Aproveitei a vida em reais (ela é dura, sim) para evitar o consumismo. Afinal, como filha do capitalismo, às vezes me dou ao luxo de me entregar a este vício como quando voltava a casa após cada trimestre luandense.


No dia de lembrar o revolucionário de 2009 dias atrás, preferi então me recolher à significância de nossas almas. Então, como manda o figurino natalino, juntei meia dúzia de amigos, minhas duas mães e meu núcleo familiar para rir. Rir de nós mesmos, claro... E reaprender com os nossos erros. Além disso, e foi o mais legal, angariar alimentos perecíveis para quem tem ainda menos (R$) que nós. As doações não foram muitas, mas o suficiente para dar um outro significado ao dia. Foi bom.


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Já no Reveillon, estive entregue ao canavial. É a velha rotina ensandecida de redação, com direito a todo tipo de estresse pré e pós-traumático (rs) que isso pode representar. Plantar, cortar a cana, limpar a casa e ainda ir para o tronco se a tarefa não estiver de acordo com as vontades do senhor. Era assim nos engenhos de cana-de-açúcar com os nossos ancestrais. E continua sendo hoje em dia, conforme as regras da mais valia nos países subdesenvolvidos. Afrodescendentes ou não (a maior parte dos que estão na base da pirâmide social de cá o são), vivemos assim aqui no Brasil. Mas, pelo menos, tem água todo dia nas torneiras e não há barulho de gerador. E tem memória afetiva suficiente até para nos aborrecer.


E, vejam, foi só contemplar o colorido dos fogos de artifício no céu da Barra para me emocionar. Sei lá o que me deu... As lágrimas desciam duas a duas. É que, apesar dos velhos (e conhecidos) percalços do caminho, finalmente estou cá. "Estou em casa", repeti.


Ali, voltaram as lembranças das aulas de tolerância que Luanda me deu. Tomara que os que sofrem por lá tenham tido um Natal melhor. E que 2009 seja de paz. Muita paz!